Num
documentário sobre um grupo de macacos africanos, percebi que o sistema
político deles tem muitos pontos de contato com o nosso. O presidente ou líder da
manada, precisa estar atento o tempo todo para evitar que companheiros e
adversários se apossem dos bens sob seus cuidados. E que bens são esses? O
território, as aguadas, as fontes de alimentação, as vias de transportes como
os galhos e cipós, os locais de dormir com segurança e, sobretudo o harém. O
harém, este sim, é o ponto nevrálgico, o patrimônio mais vigiado e mais
subtraído. Talvez corresponda ao Erário nas sociedades humanas: o que mais se
vigia e é o mais dilapidado. Não tem santo Cristo que impeça que oportunistas e
salafrários o desfalquem.
Ser
chefe nesse bando de macacos, mais do que um privilégio, é um tormento. É o
tempo inteiro empreendendo ações populistas: sacode árvores para derrubas as
frutas pra macacada, joga água nos outros em momentos de calor, afugenta
predadores e tal. E ainda tem que dormir com um olho só. Eles não têm polícia
federal, tribunais de conta ou qualquer meio estruturado de fiscalização. Tudo é
guardado pelo olho do chefe. E seu direito mais precioso, o de projetar seus
genes no futuro, engravidando as macacas do harém, é o mais violado. Enquanto
ele capricha uma fornicada com uma, vem qualquer macaquinho à-toa e dá uma
rapidinha com outra, e sai correndo pela mata com gritaria característica, contando
a todo mundo: peguei mais uma. É verdade que há uns exibidos e covardes que não
se arriscam a transar com nenhuma macaca, mas sai gritando como se o transcurso
tivesse ocorrido. Isso é o bastante para retirar o líder do sério. E quando ele
pega um malandro desses, não tem outra pena: é a de morte. Que ele executa
pelos próprios meios.
Enquanto
isso, os companheiros contrariados e a oposição vão se conchavando para suceder
ao líder. E quando ele menos espera, o pessoal dá o golpe (a eleição deles). O
líder da oposição assume, joga o antigo chefe no ostracismo, e imediatamente
deflagra uma guerra sangrenta contra os companheiros de campanha para que suas
ordens valham e tenha um controle efetivo dos bens sob sua guarda.
Que só
um prefeito ou presidente recém-ungido: sua luta imediata é contra os
companheiros de coligação e campanha. Porque o líder dos humanos, assim como o
dos macacos, se bobear, os companheiros açambarcam tudo. A começar pelo harém.
(Publicado no jornal O Popular, Goiânia, Goiás em 16 de novembro de 2012).
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