O galfo & a malmita

 Ao deixar a presidência em 2010, com uma aprovação triunfal de 80%, Lula dava pinta de que estava de “galfo & malmita” nas mãos e seu retorno ao cargo, em 2014, era só uma questão de cumprir tabela. Sua situação era tão boa que alguns companheiros até cogitaram de dar uma mexida na constituição e emplacá-lo num terceiro mandato, seguindo os passos do camarada Chaves, da Venezuela. 

Em seus dois governos, como o primeiro trabalhador a galgar o mais alto posto da República, Lula surfou uma onda de inflação baixa e crescimento econômico real, permitindo-lhe operar a maior programa de distribuição de renda da história, com substancial redução da pobreza de 40 para 9%.  E conseguiu essa proeza com o beneplácito das elites, sempre acusadas de retrógradas e conservadoras. É claro que isso teve um custo. Contrariando os cânones do próprio partido, investiu no comando do Banco Central o Banqueiro Henrique Meireles, deputado eleito pelo PSDB de Goiás, e sob sua orientação criou a maior bolsa-empresário (com valores superiores aos da bolsa-pobreza) e assim manteve os plutocratas do País com o bico fechado e abriu as comportas para o sucesso de seu governo.

A fórmula deu tão certo que Lula sempre contou com a opinião pública para suplantar todas as crises que pintaram no caminho.  E não foram poucas. A primeira foi a dos Bingos, protagonizada por Waldomiro Diniz, assessor do Ministro Zé Dirceu, que foi flagrado recebendo propina de Carlinhos Cachoeira, supostamente para abastecer o PT e os partidos da base aliada.

Em 2005 eclodiu a crise que ficou conhecida como o Mensalão, que lhe custou a cabeça do companheiro umbilical Zé Dirceu. As investigações atestaram a existência de uma quadrilha encastelada no poder central desviando recursos públicos para comprar apoio da base aliada. Aliada, pero no mucho.

Outros escândalos e crises vieram, tais como o caso das consultorias suspeitas do ministro Palocci que ficou conhecido como “a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo”. Este custou a cabeça do companheiro Palocci. Vieram ainda a crise do setor aéreo, o escândalo dos cartões corporativos, o dos passaportes diplomáticos dos filhos, e a acusação de tráfico de influência da ministra Erenice Guerra. À tsunami financeira de 2008, Lula chamou de “marolinha” e ninguém de fato sentiu seus abalos.

Lula se safou de todas as crises e manteve seu prestígio nas alturas, a ponto de fazer de Dilma sua sucessora. Uma ex-militante das esquerdas da época da Ditadura militar, sem nenhuma experiência em campanha eleitoral. Diante de tudo isso, Lula foi na onda de Obama e se sentia realmente “O Cara”.

Mas uma maré de azar parece que vem solapando as esperanças do ex-presidente. Sua saúde se abalou consideravelmente e o modelo econômico que os sustentou dá sinais de exaustão. Os fantasmas dos escândalos estão saindo das catacumbas para atormentá-lo: O mensalão está sendo julgado no STF e Carlinhos Cachoeira, guardado a sete mil chaves no Presídio da Papuda, está pela hora de detonar sua bomba de efeito imprevisível. Para piorar ainda mais, a companheira Dilma parece ter tomado gosto pelo poder e já posa de candidata chapa-branca ao segundo mandato. Nessa maré, Lula poderá pisar os palanques de 2014, já desconectado de suas bases de apoio.    

(Publicada no jornal O Popular - Goiânia - Goiás em   04 de agosto de 2012).

2 comentários:

  1. No comments: a cara perversa do Sr. Lula diz tudo: que se dane a Ética!

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  2. Em tempo: gosto de ler esta crônica do Mestre Edival tentando buscar nela uma ironia sutil, subdita - Lula não é tão inocente assim; a classe média, no frigir dos ovos, foi quem bancou um tão equivocante "crescimento do país" - o que, esperar, enfim, de um Presidente que sempre deixou claro isto: "Eu não vi nada, embora tenha escutado tudo; por isso não disse patavina..." (que nem aqueles três macaquinhos famosos...). LULA FEZ FOI TRAIR, COM SEU SÉQUITO DE "ALI-BABÕES", AS TÃO GLORIOSAS BASES DA FUNDAÇÃO PETISTA...

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