Me valho do estribilho da antiga modinha, Balada
Goiana, de Manoel Amorim e Felix de Sousa, para o título desta crônica. Os
autores, ao recorrerem à repetição tipo dízima periódica, acentuada por uma
melodia saudosa e ao mesmo tempo em tom crescente, por certo gostariam de
realçar Goiás (estado geográfico e de espírito) como um dínamo gerador de sentimentos:
da saudade à magnitude, passando pelo pertencimento e ao orgulho. Ou seja, erigir
Goiás como uma celebridade aos corações goianos. Celebridade, aqui, numa
acepção quase medieval, no sentido de renomado, substancioso, respeitável,
meritório, aquilo que se celebra.
Ocorre que Goiás nos últimos tempos tornou-se um
estado de triste celebridade. Uma celebridade midiática, mais no sentido do
camarada que produz fatos turbulentos só para ter espaços nas colunas e
permanecer aceso aos olhos de grande número de pessoas. É Goiás, Goiás, Goiás
no sentido de: É nóis na fita, mano!
O certo é que Goiás sozinho poderia alimentar, com
folga, o noticiário nacional. Notícias de outros estados só são pautadas por um
capricho editorial, por um senso de divisão e simetria. Ou, sei lá. Talvez por
mero ciúme. Como pode um noticiário televisivo, por exemplo, falar só de Goiás
e deixar de fora estados como Rio e São Paulo? Mas que Goiás sozinho tem tido
tutano para alimentar o Brasil de notícias, ah, isso tem.
Pra começo, a Operação Montecarlo da Polícia Federal vem
produzindo, não uma cachoeira, mas uma catarata de notícias deslumbrantes. A
cada dia é revelada uma conexão nova, uma falcatrua mais inusitada, um
envolvimento mais sórdido, um capachismo mais inesperado. Cada notícia nos
afirma a sensação de que Goiás teria se tornado a legítima jurisdição de um
contraventor sem limites. Alguns Uns mamando, alguns repugnando. Muitos
aguardando ansiosamente a hora de ser subornado, já com a interjeição na ponta
da língua: demorô!
Mesmo sem contar a Operação Montecarlo (o senador
cassado, o suplente que assume às arrecuas com medo de se explicar, os
deputados encalacrados, a CPI ameaçando convocar o chefe do executivo outra
vez, juiz afastado, outras autoridades caindo fora etc.) nos últimos dias um
monte de outros fatos foi produzido fora do sombrite do afamado contraventor.
Poderíamos citar a execução de um jornalista, a
denúncia ainda que anônima de esquadrão de extermínio na polícia militar, prisão
de 69 assaltantes de carros comandados por quadrilha de presidiários (como
pode?), apreensões de carregamentos de drogas, crianças afogadas em berçário,
assassinatos estapafúrdios, recidiva dos caça-níqueis (seria por um grupo
concorrente?).
No entanto, o mais emblemático foi a prisão (e a
posterior soltura) do goiano (tinha de ser) presidente da VALEC, acusado de desvio
de cifras milionárias na construção da Ferrovia Norte-Sul. Aliás, essa obra é
um emblema da brasilidade. Nos últimos 25 anos, a China realizou uma revolução
sócio-econômica, dotando o país de uma infraestrutura prá lá de moderna. Nós
não conseguimos sequer implantar uma ferrovia que ligasse o norte ao sul do Brasil.
Ai, meu Deus, que preguiça!, como diria Macunaíma. Por essas e outras é que
podemos cantar: É Goiás, Goiás, Goiás!
(Publicada no jornal O Popular - Goiânia, Goiás em 27 de julho de 2012)
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